Vila Meã, uma terra com história...

Memórias Paroquiais de Vila Meã (1758)

 

Memórias Paroquiais de Vila Meã (1758)
 

Transcrição e leitura actualizada de António José Queiroz

 

As chamadas “Memórias Paroquiais da Torre do Tombo de 1758” são baseadas num inquérito elaborado pelo Padre Luís Cardoso após o terramoto de 1755. Destinado a todas as paróquias do reino, o referido inquérito foi dividido em três partes: a 1.ª, com 27 quesitos, trata da descrição geral da freguesia; a 2.ª, com 13 quesitos, é referente à descrição da serra (caso a haja); a 3.ª, com 20 quesitos, diz respeito à descrição do rio que porventura aí passe. As respostas de algumas freguesias são desconhecidas. É o caso de Oliveira. Daí publicar-se apenas o breve apontamento então redigido em Lisboa.

 

Ataíde

Relação do que se achou na freguesia de São Pedro de Ataíde, comarca de Penafiel e bispado do Porto, a respeito dos itens de Sua Real Majestade que Deus guarde, feita pelo Abade da dita freguesia por mandado do Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor e Bispo do mesmo Bispado que é o seguinte.

1. Que esta freguesia está situada nos limites da província de Entre Douro e Minho e dentro do bispado do Porto, comarca da vila de Guimarães, termo da vila e concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega.

2. Que do dito concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega é senhor donatário o Ilustríssimo Conde de Óbidos, Meirinho-mor deste Reino, o qual por seu nome dizem é D. Manuel de Assis Mascarenhas.

3. Que esta freguesia não tem lugar povoado com número considerável de vizinhos e somente se podem verdadeiramente numerar por fogos que ao todo fazem o número de quarenta e dois; e das pessoas maiores seu número é o de cento e sessenta e duas, e das menores dezanove, segundo o rol dos confessados.

4. Que esta freguesia está situada em vale entre montados dos moradores dela, que não tem matos altos mas sim baixos, que servem para os estrumes e adubos de suas fazendas e são os ditos montes repartidos por sortes entre os mesmos moradores e de outras freguesias. E além disto os ditos montes não são muito altos e deles se não descobre povoação alguma porque as povoações que há são as vilas de Amarante e Arrifana de Sousa que distam desta freguesia duas léguas.

5. Que esta freguesia tem nove lugares por seus nomes, a saber, Ataíde de Baixo que tem um só morador, Devesa da Feira que tem nove vizinhos, Marmoiral que tem sete vizinhos, Agras que tem dois vizinhos, Mato que tem oito vizinhos, Vila Boa que tem só um vizinho e Varziela o mesmo, Devesa que tem quatro vizinhos, Pinheiro que tem nove. E não consta de mais por ser esta freguesia pequena que não tem de comprido e largo mais de meio quarto de légua.

6. Que esta paróquia está no meio dos lugares acima, mas dividida deles.

7. Que o Orago e Padroeiro desta freguesia é São Pedro e na freguesia há três altares, a saber,

o altar-mor e dois colaterais. No altar-mor, que é do Pároco, está colocado o Santíssimo Sacramento, um dos altares colaterais é o de Nossa Senhora do Rosário, aonde se acha a imagem dela, e outro é de São Pedro padroeiro da freguesia, aonde está a sua imagem. E não tem a freguesia mais que uma só nave, e nela não há Irmandade alguma.

8. Que o Pároco da freguesia é Abade e a apresentação da freguesia tem alternativa de Sua Santidade, Ordinário e Religiosos beneditinos do Mosteiro de São Miguel de Bustelo, junto à vila de Arrifana de Sousa. E rende a renda da freguesia e igreja, atendendo aos certos e incertos um ano por outro, cento e vinte mil réis.

9. 10. 11. 12. (Nada)

13. Que há uma ermida, sita no lugar do Pinheiro, junto da Estrada Real e pública que vai para a cidade do Porto, com a invocação de Nossa Senhora do Pinheiro a qual está situada em um alto pegada ao dito lugar, e é venerada pelos moradores da freguesia com as esmolas que as pessoas devotas da terra e da América despendem. E é tradição que a dita ermida pertencia aos Ataídes e sua família no tempo que residiram nesta freguesia de cuja família é a casa de Barbosa e a esta casa pagam foros e pensões alguns moradores desta freguesia por possuírem casais dela.

14. Que nesta freguesia não há romagem e somente há clamores que se fazem na dita capela e ermida de Nossa Senhora do Pinheiro, por votos antigos [de[1]] algumas freguesias circunvizinhas à dita Senhora, como são as freguesias de Santa Maria da Alta de Meinedo e São Mamede de Recesinhos e Salvador de Castelões de Recesinhos deste Bispado do Porto e comarca de Penafiel, e as freguesias de São Pedro de Caíde de Rei e Salvador de Real, visita da segunda parte de Sousa e Ferreira do Arcebispado de Braga Primaz, em dias determinados do ano, como bem a saber, na quarta Dominga da Quaresma e terceira, e a vinte e cinco de Março, e em uma das oitavas da festa da Páscoa. E também da igreja desta freguesia vai um clamor à dita ermida no dito dia vinte e cinco de Março.

15. Que os frutos da terra são centeio, milhão, milho miúdo, painço e vinho verde de enforcado e outros legumes miúdos, mas só os do milhão e vinho são em maior abundância.

E todos eles são bem necessários para o sustento dos moradores, e ainda em alguns anos não chegam.

16. Que no concelho de Santa Cruz [de] Riba Tâmega, de cujo distrito é esta freguesia, há dois Juízes ordinários, um do cível, crime e sisas com sua câmara, e outro dos órfãos separadamente. Este serve por mercê do Ilustríssimo Conde de Óbidos, com seu Escrivão, posto pelo mesmo. Aquele também serve por eleição feita em pelouro pelo Ouvidor do mesmo Conde que tem no dito concelho que conhece na forma das doações de apelações e agravos que se interpõem do dito Juiz ordinário do cível, crime e sisas e somente entra em correição o Corregedor e Provedor da comarca de Guimarães. Os Escrivães são quatro do público e um da câmara e almotaçaria e outro dos órfãos; todos estes escrevem pelo dito Conde. E só o Escrivão das sisas escreve por sua Majestade que Deus guarde, e umas mais Justiças costumadas.

17. 18. (Nada)

19. Que nesta freguesia, e lugar da Devesa da Feira, se costuma fazer feira duas vezes em cada mês do ano, a saber, na primeira Quinta-feira e no dia vinte e dois. E se costumam mais fazer três feiras anuais, a saber, em dia de Santa Luzia, a treze de Dezembro, e em dia de São Sebastião, a vinte de Janeiro, e na segunda oitava da festa de Natal e é franca e regularmente não dura mais que meio-dia.

20. Que esta freguesia não tem correio e se serve do das vilas de Arrifana de Sousa e Amarante que distam duas léguas deste distrito.

21. Que esta freguesia dista da cidade do Porto, capital do Bispado, oito léguas e da de Lisboa, capital do Reino, sessenta léguas. 

Nada dos mais itens. E somente há algumas fontes de charcos que servem para o uso dos moradores, mas não notáveis. E os moradores usam das águas que lhe[s] competem para a cultura dos seus campos, sem pensão e livremente. 

Não tenho mais que informar sobre os itens de Sua Real Majestade que Deus guarde, por se não poderem verificar as mais notabilidades neles expressados em todo o distrito desta freguesia de São Pedro de Ataíde. E farei tudo o mais que se me ordenar como fiel vassalo de Sua Majestade e súbdito de Vossa Excelência Reverendíssima. Hoje, 15 de Abril de 1758. 

De Vossa Excelência Reverendíssima, humilde súbdito, 

Francisco da Silva.

 

(Referência documental: IAN/TT, Memórias Paroquiais, vol. 5, memória 35, fls. 751-756).

 

Oliveira

Oliveira é aldeia e paróquia do concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega, na moderna comarca de Penafiel. O seu povo consta de 58 fogos com 187 almas de Sacramento, na Matriz dedicada a São Paio. 

O Pároco é vigário da apresentação das Religiosas de Santa Ana da vila de Viana do Minho. E tem de côngrua 30 mil réis.

 

Referência documental: IAN/TT, Memórias Paroquiais, vol. 42, memória 254, fl. 121.

 

 

Real

Esta freguesia do Salvador de Real é do arcebispado de Braga Primaz, pertence à segunda parte da visita de Souza e Ferreira, está dentro dos limites da província do Minho, é da comarca de Guimarães, é cabeça do concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega, de que é donatário o Conde Meirinho-Mor. Tem duzentos e oito vizinhos, e quinhentas e cinquenta e oito pessoas. Está situada em um vale donde se não descobre outra alguma povoação. A Freguesia desta freguesia está fora de todos os lugares dela, e os que tem são os seguintes, Freixieiro, Bouço, Monteinedo, Soto Maior, Rocinho, Renza, Salgueirinhos, Paço, Lama, Rua, Carvalho, Terça, Souto, Moinhos, Real D’Além, Monte, Vila Meã, Ribeira, Pardieiros, Aldeia Nova, Salvador. O Orago desta freguesia é o Salvador. E a freguesia tem três altares, o mor, que é do Padroeiro, e dois colaterais, o da parte da Epístola é do Menino Deus, o do Evangelho de Nossa Senhora do Rosário, que também se chama de Santa Catarina. O corpo da Freguesia não tem naves, não tem Irmandades, tem a confraria de Santa Catarina, e uma mordomia de Nossa Senhora do Rosário de que toma contas o Doutor Provedor da comarca de Guimarães. O Pároco desta freguesia é Abade. E [a] apresentação do dito benefício pertence à Mitra de Braga e aos padres bentos do convento de Travanca, que com alternativa de meses o apresentam. E o Abade desta freguesia tem obrigação de dar todos os anos um jantar à comunidade de Travanca. Rende este benefício seiscentos mil reis. Não tem esta Freguesia beneficiados, nem a freguesia convento algum, nem hospital, nem casa de Misericórdia. Tem muitas capelas, a saber: a de Santo António que [está] situada dentro do lugar de Carvalho, e tem esta alguns bens encapelados, que administra um homem do mesmo lugar chamado Luís António de Vasconcelos; e não tem esta capela romagem notável; a capela de Santa Comba que está fora do lugar, e a fabrica um homem do lugar da Terça desta freguesia, chamado Caetano Luís da Silva; a capela de São Brás que está situada dentro do lugar de Real D’Além e a fabrica um homem do mesmo lugar chamado Fernando de Magalhães de Meneses; e esta capela tem uma grande romagem em o dia do mesmo Santo; a capela de Nossa Senhora da Luz, que está em um monte, e a fabrica o sobredito Fernando de Magalhães; a capela do Menino Deus, que está dentro do lugar de Vila Meã, e a fabrica um homem do mesmo lugar chamado Pedro da Silva; a capela de São Roque, que está fora de casas, é fabricada pelos moradores desta freguesia; a capela de São Gonçalo, que está dentro no lugar do Salvador, fabrica um homem do mesmo lugar chamado Manuel Duarte Teixeira. E não tem esta freguesia mais capelas, e [a] nenhuma delas acode romagem, menos a que fica dito. Os frutos que os moradores desta freguesia recolhem em maior abundância é milhão, centeio, algum milho branco, e painço, e pouco trigo, e bastante vinho verde. Também recolhem algum azeite, e mais podia ser se houvesse diligência nos lavradores, porque a terra é muito caroável a ele. Este concelho se governa por Juiz ordinário, e Câmara, e da Justiça se indica em acto de correição o Corregedor da comarca de Guimarães. Não há memória que nesta freguesia florescesse homem algum de estimáveis virtudes. Não há nesta freguesia feira, nem correio, e o de que se utilizam os moradores é do da vila de Amarante, que dista da freguesia légua e meia. E são oito daqui a Braga, cidade capital deste Arcebispado, e sessenta a Lisboa, capital do Reino. Não tem esta terra privilégios, nem isenção alguma digna de memória, nem as águas desta terra tem especialidade alguma. Não [h]ouve em toda ela ruína com o terramoto de cinquenta e cinco. Nem tem mais nada que mereça memória. 

Esta freguesia não tem monte que mereça o nome de serra. E a este respeito não tenho que responder aos interrogatórios. 

O rio que passa por esta freguesia chama-se o Odres, leva pouca água, e por isso incapaz de ser navegável. Nasce em a freguesia de Santa Cristina, uma légua distante desta, e principia o seu curso em pouco mais de um rego de água. E nele entram alguns regatos pequenos, e em toda a sua distância corre sossegado, e corre de poente ao nascente. Cria bastantes escalos, que não chegam a fazer-se grandes, porque o povo lhe deita frequentemente cocas e troviscadas. E acaba o dito rio metendo-se em o Tâmega, entre a freguesia de Santo Isidoro e Canaveses. E neste último fim do seu curso cria bastantes bogas, e alguns barbos, e trutas, e não tem tempo determinado a pescaria dos ditos peixes, e de casar usam livremente os povos sem que no dito rio tenha senhor algum particular domínio. A maior parte das suas margens se cultivam, e tem algum arvoredo que da vinho verde. Não tem virtude nenhuma particular as suas águas. Em todo o seu curso conserva o mesmo nome, nem há memória o tivesse em tempo algum diferente. Algumas [sic] açudes servem para moerem os moinhos que tem nesta freguesia, que são dezasseis, todos de broa. E também nesta freguesia se movem com as suas águas um engenho de azeite. Tem nesta freguesia uma ponte de cantaria com três arcos, e está situada perto do lugar de Vila Meã. E tem também três de pau, que uma está no lugar dos Moinhos, e outra em outro lugar dos Moinhos, e outra em o lugar de Real de Além. Não há memória que em tempo algum se extraísse ouro de suas areias. Os povos usam livremente de suas águas, sem pensão alguma. E corre desde que nasce até que acaba em o Tâmega, duas léguas e meia, e não há nele coisa alguma que seja notável, o que se passa na verdade. 

Real, 22 de Maio de 1758. 

O Abade João Barreto Gavião

O Vigário Manuel Teixeira da Cunha

O Vigário da Freguesia de Santa Eulália de Banho, Francisco Pinto

 

Referência documental: IAN/TT, Memórias Paroquiais, vol. 31, memória 78, fls. 445-448.



[1] No original, está escrito “que”.

 

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