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S. Brás

A mais antiga romaria que se realiza em Real e de que temos notícia é a romaria de S. Brás, que ainda hoje se realiza na capela da Quinta do Barreiro, pertença dos Vasconcelos do Carvalho.

No dia 31 de Janeiro começavam a rufar tambores em deslocações circulares à volta da capela, anunciando que estava a chegar o dia 2 de Fevereiro, dedicado aos ex-votos e ao arraial mundano.

Mas este arraial era muito diferente das outras romarias. Era um romaria típica de Carnaval, porque começando este a 20 de Janeiro tinha o seu fim em data incerta, mas sempre muito depois de passar o S. Brás.

Daí que o arraial fosse de serpentinas, confetis e utensílios de arremesso de água em esguicho, tais como improvisadas seringas feitas de cana, com um furinho no fundo e um êmbolo constituído por um pau envolto em tomentos de linho numa das extremidades. Pela outra ponta empurrava-se o êmbolo comprimindo a água, tirava-se o dedo do furinho feito na cana e lá saía um jacto de água em direcção da pessoa que se pretendia atingir.

O arraial estava sempre bem orlado por suculentas barracas de doceiras, "bancas" de confetis e serpentinas e até pipas de vinho.

Mandava também a tradição que se levasse uma toalha de linho e um salpicão e se comprassem na romaria figos, vinho e uma regueifa de trigo, com que se armava mesa no declive que escorre para o rio Odres, comendo e bebendo "até lhe chegar com um dedo".

Depois era o saltar para o arraial onde os confetis se jogavam com frenesim tentando, os mais atrevidos, metê-los na boca das raparigas. Logo atrás vinha a mãe delas de guarda-chuva em riste, atestando no lombo do atrevido até o por em fuga.

Por vezes também entrava o pai na contenda e então gerava-se a confusão geral, com todo o arraial e o vinho consumido, envolvidos em frenética pancadaria, entretenimento muito vulgar nas romarias, pelo menos até à primeira metade do século XX.

Mas a festa não terminava sem o estoirar da macaca. Era um artifício de pirotécnica em forma de boneco articulado que, depois de incendiada, começava a girar em rodopio, ensaiando movimentos de braços e pernas, ao mesmo tempo que lançava "bichas de rabiar" por entre os assistentes que fugiam desabridamente com alguns trambolhões à mistura.

Por fim o boneco imobilizava-se e ao explodir a carga final ficava totalmente desfeito. Era o fim da romaria e da algazarra profana.

No dia seguinte - 3 de Fevereiro - havia (e há) missa e um clamor. Muitos dos habitantes de Real guardavam dia santo e, no "trama do meio-dia" lá iam gozar o resto do dia para a Feira do Marco.

Actualmente, só o guardar dia santo e a Feira do Marco saíram da romaria e da festa do S. Brás. Quanto ao restante tudo se mantém na mesma, havendo ainda muitos que fazem questão de não trabalhar na tarde do dia 2, com algumas empresas a fecharem as portas para permitir que os seus trabalhadores mantenham viva a tradição.

 

Torcato Bessa

In: Jornal de VILA MEÃ - nº. 36 – Junho de 2002 - pág. 7.

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