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Rua Padre Francisco de Babo

RUA PADRE FRANCISCO DE BABO

(c) António José Queiroz

 

Situada em Ataíde, entre a Rua da Varziela e a Avenida Nova, esta artéria vilameanense recorda um sacerdote e professor que se notabilizou por ter sido arauto e dinamizador de uma bem sucedida campanha nacional em prol das “alminhas”.

A origem deste culto remonta ao Concílio de Trento (1545-1563), a partir do qual foram criadas as Confrarias das Almas, como forma de institucionalizar a crença no Purgatório. Estas confrarias chegaram a Portugal no século XVII. Por volta de 1610, a Lisboa; cerca de 1668, ao Porto. Nos inícios do século seguinte espalharam-se um pouco por todo o país. S. Gregório Magno é o padroeiro das Confrarias das Almas. Daí a sua figura ser frequentemente representada junta à de Cristo e da Virgem, assistindo à libertação das almas.

Até ao referido Concílio de Trento, a doutrina cristã (a exemplo de outras religiões) era essencialmente dual, diria mesmo maniqueísta, separando bons e maus, isto é, os puros dos impuros. Os primeiros ganhariam o Céu; os segundos penariam eternamente no Inferno.

Ao rejeitar este dualismo, a Igreja Católica “respondia” ao movimento reformista, ou protestante, aceitando a existência de um “estado intermédio”, o Purgatório, onde as almas dos “impuros” permaneceriam algum tempo até que, sufragadas por parentes e amigos, acabassem (já “purificadas”) por subir ao Céu.

As “alminhas” são pois, representações populares das almas do Purgatório em pequenos nichos ou padrões. Criação genuinamente portuguesa, foram erguidos sobretudo em caminhos rurais ou encruzilhadas, muitas vezes incrustados em muros. Em Vila Meã há algumas “alminhas” que continuam a merecer a devoção de muitos fiéis como o comprovam as velas acesas e as flores constantemente renovadas que aí se encontram.

Para o Padre Francisco de Babo, “um nicho com o painel das almas entre labaredas, encimado pela Senhora do Carmo ou Jesus Crucificado, é um despertador da Fé, é um clamor e um brado, é um convite e um estímulo à oração e à esmola em dinheiro para missas, que se hão-se celebrar pelas que estão em penas, expiando”.

Francisco de Babo nasceu em Real, no dia 23 de Março de 1905. Era filho de pai incógnito e de Maria da Purificação (solteira, proprietária, natural de Mancelos) e neto materno de João de Babo e Margarida Rosa. Segundo se lê no livro Autores Amarantinos, de Albano Sardoeira, o pai de Francisco de Babo chamava-se Francisco José.

Tendo estudado no Seminário Diocesano do Porto (onde concluiu o curso de Filosofia e Teologia), Francisco de Babo leccionou no Seminário de Leiria (1925-1926) e nas Missões de Tomar e Sernache do Bonjardim (1926-1929). A partir daí, foi professor no Colégio e Seminário de Ermesinde, cargo que acumulou com o de director religioso do Colégio de Nova Sintra, no Porto.

Com vasta colaboração na imprensa (Novidades, O Comércio do Porto, A Voz, Diário da Manhã, Diário do Minho, A Voz do Pastor, A Ordem, Flor do Tâmega, Lúmen, Flama, Horizonte, Magnificat, etc,...), o Padre Francisco de Babo promoveu em 1954, como atrás se disse, uma campanha nacional a favor da restauração das “alminhas”, tendo para o efeito publicado um livro justamente intitulado Alminhas, Padrões de Portugal Cristão (de que saíram várias edições; a 5.ª é datada de 1968). Em 1957 voltaria ao tema com o livro Alminhas Portuguesas, obra ilustrada com cerca de centena e meia de gravuras.

O Padre Francisco de Babo (que deixou a sua propriedade, na Carvalhada, Ataíde, à Congregação do Bom Pastor) faleceu em Ermesinde, no dia 14 de Abril de 1976. Está sepultado no cemitério de Ataíde.

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