Vila Meã, uma terra com história...

Rua da Igreja

RUA DA IGREJA

(c) António José Queiroz

 

Em Vila Meã há três artérias com este nome: Em Ataíde, Oliveira e Real. Todas se situam próximas das respectivas igrejas paroquiais. Falemos da segunda, a mais imponente da nossa terra.

A Igreja de Real, dedicada a S. Raimundo, foi sagrada a 30 de Agosto de 1938 pelo Bispo do Porto D. António de Castro Meireles. A sua inauguração (segundo  o semanário amarantino Flor do Tâmega), ocorreu no dia seguinte. Esta informação contraria o que se lê na pedra evocativa desse acto, que se encontra numa das paredes laterais do edifício. A data aí inscrita é a de 3 de Setembro de 1938.

O projecto da Igreja de Real é da autoria de José Vilaça, um arquitecto que teve grande destaque nos inícios do Estado Novo. Ligado à recuperação de monumentos nacionais, assinou também algumas significativas obras de carácter revivalista, sobretudo no Minho (Braga, Barcelos e zona da Ribeira-Lima).

Quando a igreja foi inaugurada, as obras ainda não estavam concluídas. A torre, por exemplo, ainda não havia sido construída. Na missa inaugural (que começou ao meio-dia e terminou às três e meia da tarde) participou a orquestra sacra do Bombeiros Voluntários de Amarante. Para além do Bispo do Porto, que presidiu, as cerimónias envolveram os padres José Marques da Silva (mestre de cerimónias da Mitra) Joaquim Carvalho de Sousa (flâmulo do Bispo), Manuel da Rocha Barbosa (Banho e Carvalhosa), Álvaro Morais Ferreira e Manuel Rebimbas (Amarante), Abel de Araújo Moreira Lopes (Castelões), Joaquim Soares Moreira (Mancelos) e ainda o de Duas Igrejas. O sermão foi proferido pelo padre da Foz do Douro Manuel Dias da Costa. Embora presente, o padre de Real, Dr. António Ferreira, não pôde tomar parte nas cerimónias devido a “incómodos reumáticos”.

As cerimónias iriam prosseguir, às seis da tarde, com uma imponente procissão na qual se integraram três Bandas de Música (Amarante, Figueiró e Vila Boa de Quires). O percurso foi longo, obrigando a uma paragem, para descanso, no Monte das Cruzes. Recolhida a procissão, foi a vez do Bispo subir ao púlpito para pregação aos fiéis. A noitada foi “radiante”, com iluminação, fogo-de-artifício e música.

A Igreja de Real foi construída num terreno doado por José da Rocha, José de Vasconcelos e Rui Teixeira de Sousa. As obras, que se prolongaram por três anos, atingiram o valor de 350 contos; o Estado contribuiu com 120. Os restantes 230 foram dados pela comunidade vilameanense no Brasil. Segundo António Pinto Marques, Raimundo Magalhães contribuiu com “uma importância avultadíssima” e promoveu, “entre os seus inúmeros amigos, uma subscrição que permitiu atingir uma quantia elevada”. Generosas (embora também não quantificadas) foram as contribuições de Elísio, Rodrigo e Óscar Magalhães. O mesmo poderá dizer-se das dádivas dos irmãos Joaquim, Rodrigo e António de Oliveira Carvalho. Sabe-se (pelo referido semanário Flor do Tâmega) que a contribuição de Rodrigo de Oliveira Carvalho foi muito elevada para a época: 20 contos. Foi, seguramente, o mesmo valor que cada um dos outros irmãos deu. A eles se deveria, aliás, a conclusão das obras da Igreja, bem como a oferta do relógio da torre, que custou 27 contos. A sua obra mecenática foi reconhecida pela paróquia, com a exposição (na sacristia da Igreja) dos retratos a óleo de Joaquim e de Rodrigo. O retrato de António (por vontade expressa do próprio) não foi realizado.

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