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Rua Acácio Lino

RUA ACÁCIO LINO

(c) António José Queiroz

 

A Rua Acácio Lino situa-se na freguesia de Ataíde. É perpendicular às Ruas de António Nobre e da Calçada. Homenageia um famoso vilameanense, notável artista e prestigiado professor de Belas-Artes.

Acácio “Lino” de Magalhães nasceu na Casa de Pedreira, freguesia de Travanca, no dia 25 de Fevereiro de 1878. Era filho de Rodrigo Pereira de Magalhães (natural de Oliveira) e Maria do Carmo Pinto de Carvalho (natural de Mancelos); neto paterno de Joaquim Pereira de Magalhães e de Eufrásia Rosa Coelho; neto materno de José Justino Pinto de Carvalho e de Guilhermina Cândida. A sua professora de Instrução Primária, Raquel Adília de Magalhães, cujo namorado de então se chamava Lino, acrescentar-lhe-ia este nome. E Acácio Lino ficaria para sempre.

Após completar a Instrução Primária vai estudar para o Porto, vivendo com seu irmão Albano (então advogado) na Rua do Paraíso, n.º 90.  Frequentou sucessivamente o Colégio de Nossa Senhora da  Lapa e o Colégio de S. Carlos, antes de ingressar no Liceu (que então funcionava na Rua de S. Bento da Vitória). Por essa altura já Acácio Lino tinha lições de Desenho (por iniciativa de seu irmão), frequentando aos domingos o atelier de Marques Guimarães (no 1.º andar do prédio do actual restaurante “O Escondidinho”). Como este artista passasse a leccionar, na Academia Portuense de Belas-Artes, a disciplina de Desenho Histórico (por ausência temporária de Marques de Oliveira) e a de Escultura (vaga pela morte de Soares dos Reis), Acácio Lino acabaria por frequentar também essas aulas. Embora não desamparando completamente os preparatórios para Medicina (curso a que seu pai o destinava), esses estudos acabaram por ficar “enfraquecidos”, até porque, a juntar às actividades atrás referidas, Acácio Lino estudava ainda, à noite, modelo vivo no Centro Artístico, na Rua de Sá Noronha. Entretanto, seu irmão partira já para Macau, como sub-delegado do Ministério Público, dando início a uma brilhante carreira de magistrado que culminaria, anos mais tarde, com a nomeação para Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça.

Sem que tivesse avisado seu pai, Acácio Lino acabará, pois, por se matricular também nas Belas-Artes. Estava já no 5.º ano de Desenho Histórico quando o seu progenitor (finalmente avisado do que se passava) o mandou regressar a Travanca. Por aqui ficou cerca de dois anos, até que um dia se encheu de coragem e pediu para continuar os estudos. “Desde que não fizeste o que eu mandei, faz lá o que quiseres”, disse-lhe o pai. No dia seguinte, eis Acácio Lino de novo matriculado em Belas-Artes (Pintura e Escultura), cursos que seguiu até ao 3.º ano.

Como seu pai lhe cortara a mesada, sobrevivia com os retratos que fazia a craion, muitos deles por encomenda do seu conterrâneo e amigo António da Silva Cunha (o famoso Cunha da Confiança), que mandava vir fotos dos seus amigos do Brasil (onde estivera durante alguns anos) e lhos pagava a 4$500 réis quando o preço “normal” para portugueses era de apenas 2$500. Com o que ganhava (e diga-se, com o que seu pai lhe fazia chegar às mãos por parente e amigos, sem que ele soubesse da verdadeira proveniência) Acácio Lino pôde alientar-se, vestir-se e pagar o quarto (9$000) numa casa de hóspedes onde passou a viver, na Rua de Santa Catarina, por cima dos Armazéns da Beira.

Com Júlio Vaz e outros condiscípulos, abrirá então, na Rua de Malmerendas, n.º 44 (actual Rua Alves da Veiga) um centro (a que chamavam “Julinho”) para estudo de modelo vivo. Por lá aparecia o seu querido mestre Marques de Oliveira para ensinar e corrigir os jovens artistas. Por essa ocasião, Acácio Lino executará aquela que foi provavelmente a sua primeira encomenda enquanto escultor: o busto do músico Ciríaco Cardoso.

Aproveitando a abertura de um concurso para pensionista do Estado, em Paris, Acácio Lino (então aluno do 3.º ano de Pintura Histórica) decide concorrer. O escolhido, porém, foi Constantino Fernandes. No ano seguinte, abre novo concurso. Acácio Lino, único candidato, foi naturalmente seleccionado, sendo votado por unanimidade. Seguiu para Paris em Abril de 1904 onde reencontra Constantino Fernandes, com quem almoça diariamente na companhia de outro artista, Alves Cardoso, e de Brito Camacho, médico militar, jornalista, escritor e futuro destacado político republicano.

O seu percurso na capital francesa passou pela Academia Julian, onde teve por professor Jean-Paul Laurens, e pela Escola de Belas-Artes, com Fernand Cormon como seu mestre. Frequentava esta Escola quando tem notícia da morte de sua noiva, Maria Leonor.

Após umas férias em Portugal (1906), regressa a Paris para continuar os estudos. Dois anos mais tarde visita a Suiça e a Itália. No regresso à Pátria, a vida corre-lhe “docemente”, leccionando no Liceu Alexandre Herculano. Após o falecimento do escultor Teixeira Lopes, vai ocupar o seu lugar na Escola de Belas Artes do Porto, onde permanecerá até à sua aposentação.

No Verão de 1913, Acácio Lino adere à Maçonaria. É iniciado, no Porto, em 29 de Julho desse ano, na Loja Luz e Vida, n.º 325, do REAA (Rito Escocês Antigo e Aceito), com o nome simbólico de “Vinci”. Atingiu o grau 3.º em 23 de Janeiro de 1914, ano em que saiu da Obediência com a Loja (31 de Outubro). A sua saída não foi seguramente estranha à grave cisão então verificada no Grande Oriente Lusitano Unido, que viu então  significativamente reduzido o número dos seus Triângulos, Lojas e “obreiros”.

Com uma forte paixão pelo desenho histórico, pintura paisagística e retrato, Acácio Lino assinou inúmeras obras. Alguns retratos (por exemplo os do Dr. Antero Brochado e de Moreira Teles), a “Batalha de S. Mamede” (a que chama, certeiramente, “A Primeira Tarde Portuguesa”), o "Grande Desvairo" (actualmente no Museu de Amarante, em que trata de maneira muito impressiva a relação de D. Pedro e D. Inês de Castro) e “Leonor Teles” são alguns dos seus principais quadros. Na escultura, para além do já referido busto de Ciríaco Cardoso, destacam-se os de Lago Cerqueira, Soares dos Reis, e um outro, feito em mármore de Itália, em homenagem à sua esposa Dina, bem como um medalhão do Mestre José de Brito.

As suas obras encontram-se no Museu Nacional de Arte Contemporânea e Assembleia da República, em Lisboa, Museu de Soares dos Reis e Teatro Nacional de S. João, no Porto, Museu Grão Vasco, em Viseu, Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha, e Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante. As condecorações que recebeu (três graus sucessivos da Ordem de Santiago da Espada, comenda da Ordem de Cristo, medalhas de honra da Sociedade Nacional de Belas Artes e da Cidade do Porto) espelham o justo reconhecimento de uma carreira admirável.

Acácio Lino faleceu no Porto, na casa onde vivia (Largo Soares dos Reis), no dia 18 de Abril de 1956. As cerimónias fúnebres tiveram lugar, no dia seguinte, na Igreja do Bonfim, após as quais o féretro seguiu para o cemitério de Travanca onde ficou sepultado junto da sua querida Dina, “uma inteligência e uma dedicação muito raras de encontrar na vida” com quem teve (é o próprio Acácio Lino quem o diz num livrinho de memórias que intitulou Recordando…)  “a vida mais feliz que pode imaginar-se”.

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