Vila Meã, uma terra com história...

ANTÓNIO NOBRE

Nasceu no Porto em 1867. Morreu em 1900.

Falo de António Nobre. Toda a sua vida foi de peregrino, de exilado em busca daquilo que nunca encontrou; a saúde e a alegria de viver.

No seu errar constante muitas foram as vezes que desceu ao Seixo, casa da mãe, (lugar da freguesia de S. Mamede de Recesinhos). Aí, procura a paz entre o povo, destas terras, simples e bondoso a que ele se há-de referir na sua obra Só em " Viagens na Minha Terra "...que pena faz ver os que ficam! Pobres, humildes, não implicam, tiram com respeito o chapéu.

Outros, passando ao nosso lado diziam: Deus seja louvado; louvado seja, dizia Na mesma obra refere-se o poeta a outros locais bem próximos de nós, pela beleza destas paragens, pelas recordações destes sítios pela simpatia e amabilidade das suas gentes. E é na saudade do seu exílio em Paris que ele vai escrever o seu rosário de lembranças na tentativa de mitigar a sua dor. É um desfilar de recordações: as jornadas que fazia ao velho Douro mais o Pai, a velha malaposta que os levava, os sítios por onde passava, "a subida de Novelas e a Sra. Ana das Dores" (uma das três irmãs Andrades da velha estalagem) "que era em Casais mesmo ao dobrar". Os medos dos assaltantes "Eu ia alerta olhando a estrada que em certo sítio na Trovoada costumavam sair ladrões..."'.

A vida para ele são apenas os lugares onde se sentia bem. É Leça e a Boa-Nova, os caminhos do Douro, os campos do Seixo, tudo o que está ligado à grande recordação da sua meninice e adolescência.

Os seus versos são um estado de alma. O Só é a sua autobiografia. Ele mesmo o afirma "n' o livro mais triste que há em Portugal". Todos os seus poemas são repassados de uma profunda melancolia própria de quem se sente doente e, pior ainda, doente da alma.

Os seus versos são um drama longo e triste. É, no entanto, uma melancolia resignada. Queria viver e a vida fugia-lhe.

Queria amar e o tempo escasseava. A vivência da morte afligia-o, angustiava-o.

Mas, procura sempre na sua necessidade de agarrar a vida, solução para os seus males, o milagre, ainda que numa perfeita miragem. A dor morava com ele e crescia a cada instante. A aldeia restituía-lhe a vontade de viver, de ser feliz.

Não admira pois, que tantas vezes voltasse ao Seixo. É sempre aí que volta, e ironia do destino, é daí que parte na sua romagem em direcção à morte.

É do Seixo que pelo braço do irmão Augusto Nobre, no dia 17 de Março de 1900, parte agora pela última vez. 

Toma o comboio na estação de Caíde para encontrar a paz na sepultura.

Morre a 18 de Março de 1900 nos braços de seu irmão na Foz do Douro.

Estes dois mundos são, como alguém disse, "o Verdadeiro Paraíso do Poeta".

 

(c) Emília José

In: Jornal de VILA MEÃ - nº. 8 – Fevereiro de 2000 - pág. 5

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