Agustina Bessa-Luís
[Vila Meã, 15.10.1922 / - ]
De todas as figuras citadas, Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa-Luís é uma das duas que ainda vivem e que, apesar da idade, continua no activo. Escritora, romancista, contista e cronista de renome, nasceu no lugar de Vila Meã, freguesia de Real, a 15 de Outubro de 1922, na casa que, durante muitos anos, foi designada por Casa do Sr. Oliveira e agora é conhecida pelos Móveis Aniceto, bem perto do que foram os Paços do Concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega, em cujo pelourinho se ouviram os primeiros gemidos da famosa escritora.
Passados poucos meses sobre o seu nascimento, foi levada pelas suas tias, da Casa das Teixeiras, para Travanca, vindo a ser ali baptizada e, como nesse tempo o registo era promovido pelo pároco da freguesia, consequentemente foi registada como nascida naquela freguesia.
Publicou o seu primeiro livro – O Mundo Fechado - (novela, 1948), com apenas 26 anos, mas o seu grande arranque foi em 1954 com A Sibila, romance premiado com os "Prémio Delfim Guimarães" e "Prémio Eça de Queirós".
Contista, cronista e romancista, a sua obra estende-se por mais de 60 trabalhos, com uma frequência espantosa que ultrapassa um livro por ano, o que é notável.
Valerá a pena transcrever o que, sobre ela, dizem Fernanda Frazão e Maria Filomena Boavida, em "Pequeno Dicionário de Autores de Língua Portuguesa": "Nascida em Vila Meã, Amarante, e oriunda de um meio social de antigas famílias da aristocracia rural do Norte, Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa-Luís é romancista, contista e cronista. Revelada plenamente nos anos 50, pode dizer-se, como Álvaro Machado o afirma, que «criou, desde a publicação de A Sibila, um universo totalmente novo, não só em Portugal mas também no romance europeu contemporâneo, pela simples razão de que, não se limitando a seguir programas vanguardistas, fundiu experiências anteriores com uma raríssima percepção da realidade social, cultural e histórica portuguesa, elevando esta a um domínio mítico, o qual constitui a originalidade essencial do romance do nosso século». No entanto, o Húmus de Raul Brandão (v.) influenciou-a directamente a nível de aprofundamento psicológico, do mesmo modo que Proust lhe facultou a estrutura espácio-temporal do romance e analisa minuciosa de situações e personagens. Escritora que afirma não ser uma «pessoa de certezas», Agustina parece preferir situar-se nessa margem ambígua donde a criação emerge como testemunho isento e independente de uma época. Se num olhar superficial a sua obra parece reproduzir um meio social onde se contrapõem caracteres populares, burgueses e aristocrático-rurais de raiz, a densa penetração psicológica dos seus romances, a implacável perscrutação interior das personagens e das situações inseridas num determinado momento histórico - num gesto apaixonado de quem procura atingir o âmago de essencialidade do ser humano no enigma das suas múltiplas relações - tomam esse mundo provinciano e fechado num longo friso humano universal. A partir dos anos 70, tem dedicado à biografia de determinadas personagens portuguesas um tempo e um cuidado cuja minúcia de análise reparte com o romance".
Além dos títulos já citados, são seus os que se seguem: Os Super-Homens (romance, 1950), Contos Impopulares (contos, 1951-1953), Os Incuráveis (romance, 1956), A Muralha (romance, 1957), O Susto (romance, 1958), O Inseparável (teatro, 1958), Ternos Guerreiros (romance, 1960), Embaixada a Calígula (viagens, 1961), O Manto (romance, 1961), O Sermão de Fogo (romance, 1962), Os Quatro Rios (romance, 1964), A Dança das Espadas (romance, 1965), Canção Diante de uma Porta Fechada (romance, 1966), Homens e Mulheres (romance, 1967), As Categorias (romance, 1970), A Brusca (contos, 1971), Santo António (biografia, 1973), As Pessoas Felizes (romance, 1970), Crónica do Cruzado Osb. (romance, 1976), As Fúrias (romance, 1977), Florbela Espanca (biografia, 1979), Conversações com Dmitri e Outras Fantasias (crónicas, 1979), Fanny Owen (romance, 1979), O Mosteiro (romance, 1980), Sebastião José (biografia, 1981), Longos Dias têm Cem Anos (biografia, 1982), Os Meninos de Ouro (romance, 1983), Adivinhas de Pedro e Inês (história, 1983), Um Bicho da Terra (romance, 1984), A Monja de Lisboa (romance,1985), A Bela Portuguesa (teatro, 1986), O Apocalipse de Aibrecht Durer (comentário, 1986), Contos Amarantinos (contos, 1987), Dentes de Rato (memórias de infância, 1987), A Corte do Norte (romance, 1987), Prazer e Glória (romance, 1988), Aforismos (1988), Eugenia e Silvina (romance, 1989), Vento, Areia e Amoras Bravas (memórias e infância, 1990), Vale Abraão (romance, 1991), Breviário do Brasil (viagens, 1991), Estados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard (teatro, 1992), Ordens Menores (romance, 1992), O Concerto dos Flamengos (romance, 1994), As Terras do Risco (romance, 1994), Alegria do Mundo I (escritos vários, 1996), Memórias Laurentinas (romance, 1996), Party (diálogos, 1996), Um Cão que Sonha (romance, 1997), Garrett - O Eremita do Chiado (teatro, 1998), O Comum dos Mortais (romance, 1998), Alegria do Mundo II (escritos vários, 1998), A Bela adormecida (1999), A Quinta Essência (romance, 1999), Contemplação Carinhosa da Angústia (pequenos ensaios, 2000), As Meninas (estudo, 2001), Jóia de Família (romance, 2001), A Alma dos Ricos (romance, 2002), Os Espaços em Branco (romance, 2003).
E o que ainda mais virá.
A vasteza e qualidade da sua obra dão à literatura portuguesa um contributo e um impulso notáveis e colhem de personalidades nacionais e estrangeiras um aplauso de admiração muito acima do comum, tomando-a um ponto de referência da Literatura do século XX.
Por isso mesmo, o seu trabalho acaba de ser reconhecido com o "Prémio Virgílio Ferreira", instituído pela Universidade de Évora, onde aquele escritor leccionou, o qual lhe será entregue em l de Março do ano corrente.
Desmentindo vários autores de notícias que a dão como nascida noutra freguesia, tem tomado posições públicas em que esclarece que nasceu naquela casa em cuja entrada foi fotografada um dia, para uma revista de Lisboa. A dita Casa do Senhor Oliveira.
Foi directora do Teatro D. Maria II durante cerca de 11 anos, e do jornal "O Primeiro de Janeiro" durante 2 anos.
Em 4 de Janeiro de 2003 foi homenageada pela ANTO - Associação dos Amigos de António Nobre, de Vila Meã e rejubilou com o "passeio" pelas divisões da casa onde nasceu, manifestando- se feliz por ter entrado de novo no seu berço, já que no dia em que foi fotografada na entrada não tinha conseguido entrar, por a casa se encontrar fechada.
Vários foram os Vilameanenses que aproveitaram a presença de tão ilustre filha da sua terra, para se fazerem fotografar junto dela.
Torcato Bessa
In: Jornal de VILA MEÃ - nº. 56 – Fevereiro de 2004 - pág. 5.