Vila Meã, uma terra com história...

Rua Gastão Teixeira da Fonseca

RUA GASTÃO TEIXEIRA DA FONSECA

(c) António José Queiroz

 

A Rua Gastão Teixeira da Fonseca situa-se na freguesia de Ataíde. Inicia-se no entroncamento das Ruas do Bom Pastor, do Monte e da Calçada e (prolongando esta última) termina na Rua António Nobre. Homenageia um grande empresário colonial e destacado benemérito vilameanense.

Gastão Teixeira da Fonseca nasceu na freguesia de  Oliveira em 11 de Setembro de 1902. Era filho de Joaquim Teixeira da Fonseca (alfaiate, natural de Oliveira) e de Maria de Jesus (natural de Travanca), neto paterno de António Teixeira da Fonseca e Francisca Rosa, e neto materno de António José Duarte e Justina de Jesus.

Contrariamente a outros conterrâneos seus que partiram para o Brasil, Gastão Teixeira da Fonseca decidiu tentar a sua sorte em Angola, seguindo o exemplo de seu irmão Francisco. O seu dinamismo, a sua dedicação ao trabalho e o seu espírito empreendedor acabaram por dar frutos, como o comprovam as vastas propriedades que adquiriu e explorou na fértil região de Kuanza Norte, concretamente em Bengueje, Santa Maria, Quiculungo e Lucala.

Embora longe, Gastão Teixeira da Fonseca nunca esquecerá a sua terra natal e o seu concelho de origem. Daí a decisão de partilhar a sua fortuna em obras de beneficência, nomeadamente na reconstrução da Igreja de Oliveira e oferta dos respectivos sinos (com mais de 50 contos), na residência paroquial de Ataíde (para a qual contribuiu com 30 contos, numa obra que teve um custo de 75 contos) e na Sede dos Bombeiros Voluntários de Amarante (inicialmente com 25 contos, gesto que lhe valeria ser distinguido com o grau de sócio honorário desta corporação, e mais tarde com outros 25; com esses 50 contos foi, de longe, o principal doador individual da obra amarantina).

Após largos anos em Angola, Gastão Teixeira da Fonseca regressou a Vila Meã, no dia 14 de Abril de 1951, para visitar a família, principalmente sua mãe. Duas semanas mais tarde (edição do dia 29), o semanário Flor do Tâmega dava-lhe grande destaque na primeira página. Numa saudação calorosa fazia-se o seu retrato moral. No texto (assinado pelo escritor amarantino António Teixeira de Queiroz) afirmava-se que Gastão Teixeira da Fonseca era um “Homem Bom”, um “espírito superior encoberto na modéstia natural da sua simplicidade cativante”. Era um homem que, “consciente do sofrimento humano”, vinha distribuindo, para aliviar esse sofrimento, parte considerável dos seus haveres. Era, enfim, um homem que, “mourejando distante do carinho de sua família e da sua terra sob climas ásperos e diversos”, não tinha “o espírito sórdido da ganância”; pelo contrário: tinha um coração que sofria “com todas as dores”.

A permanência de Gastão Teixeira da Fonseca em Vila Meã foi seguramente mais demorada do que aquilo que previra. Por vários motivos: desde logo, devido à saúde precária de sua mãe, que acabará por falecer a 31 de Agosto de 1951; depois, porque ele próprio adoeceu e foi sujeito a delicada intervenção cirúrgica no Hospital da Ordem da Trindade, no Porto, donde regressaria, de forma festiva (diria mesmo triunfal), no dia 1 de Junho de 1952. De facto, o seu regresso a Vila Meã foi um acontecimento que não deixou ninguém indiferente: em Penafiel esperavam-no os médicos Fernando Brochado e José Lencastre Freitas; em Casais Novos, o presidente da Câmara Municipal de Amarante e os máximos representantes dos Bombeiros Voluntários da sede do concelho. No começo da freguesia, onde estava a construir a sua imponente residência (que acabaria por não ser terminada e que é popularmente conhecida por “convento das ratas”), esperavam-nos também familiares e amigos, que, em cortejo, com banda de música, seguiriam até à “Vivenda Maria” (onde morava). A reportagem fotográfica (a cargo da Foto Arte, de Amarante) deu origem a um álbum com este título significativo: “A alegria dum Povo pela recuperação do seu Benfeitor”.

O eco das suas acções filantrópicas não se ficou por terras amarantinas; essas acções acabariam por ter reconhecimento ao mais alto nível e disso é prova a proposta do ministro do Interior, Joaquim Trigo de Negreiros, datada de 22 de Dezembro de 1952, para atribuição a Gastão Teixeira da Fonseca do grau de Cavaleiro da Ordem de Benemerência, proposta que seria validada por Decreto de 7 de Fevereiro de 1953, publicado no Diário do Governo, n.º 50, II Série, de 28 de Fevereiro desse ano. A condecoração foi-lhe entregue pelo presidente da Câmara Municipal de Amarante, em cerimónia pública, no dia 14 de Março.

Com a saúde novamente muito abalada, Gastão Teixeira da Fonseca embarca a 17 desse mês, no aeroporto de Lisboa, via Léopoldville, com destino a Luanda, onde chega no dia seguinte. Não teve tempo, como pretendia, para “proceder à liquidação dos seus negócios” em Angola, já que sobreviverá apenas mais três dias: conseguirá, porém, chegar à sua querida roça Bengueje, na área do posto administrativo de Quiculungo, concelho de Ambaca, onde acaba por falecer no dia 21 de Abril desse ano de 1953. A notícia do seu falecimento provocou grande consternação em Vila Meã e em Amarante. O comércio local encerrou e a Direcção dos Bombeiros deliberou manter luto durante 30 dias.

Os vastos haveres de Gastão Teixeira da Fonseca (que não era casado, nem tinha filhos) foram quase todos doados para obras de beneficência e caridade, nomeadamente para os Asilos D. Pedro V (Luanda) e Inválidos do Comércio (Lisboa) e para a Santa Casa da Misericórdia de Amarante.

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